quarta-feira, 28 de maio de 2008

Podcast do Diogo Mainardi: "A música do diabo"

A música é o instrumento escolhido pelo diabo para disseminar sua mensagem. Trata-se de um fato seguro, que ninguém dotado de um pingo de critério ousaria contestar. Abnegados estudiosos do satanismo passaram anos e anos escutando discos de trás para a frente, à procura de versos demoníacos infiltrados nas músicas. Depararam-se com uma infinidade deles. Um dos mais célebres é este aqui, do Deep Purple. Em ordem inversa, ele recita claramente: Oh demon that is leading from hell, we believe, que pode ser traduzido como Ó demônio, que está guiando do inferno, nós acreditamos. Há também este outro, do The Eagles. O inocente Hotel California, ouvido no sentido contrário, perde seu caráter kitsch e transforma-se no tenebroso Yeah, satan organised his own religion. Ou: Sim, satanás organizou sua própria religião.
A MPB, assim como o rock, está repleta de anagramas e palíndromos malignos. Fiz uma rápida pesquisa e, escutando alguns trechos de trás para a frente, em ritmo mais lento, identifiquei alarmantes mensagens cifradas em louvor do "pé-de-gancho" ou do "sarnento", em particular nas músicas de Marisa Monte, Paulinho da Viola e Guilherme Arantes. Há um verso de "Mulher", de Erasmo Carlos, em que "do barro", em ordem inversa, soa como "o rabudo". E há um verso de "Passaredo", de Chico Buarque, em que "uirapuru" se torna "jurupari".
O que a música produz é um estado de entorpecimento. A melodia, a harmonia, o ritmo – tudo contribui para conformar o espírito, para sedar, para emburrecer. Quem escuta música demais acaba rejeitando qualquer idéia dissonante, qualquer gesto que distoe. Nunca se escutou tanta música quanto agora. É a Técnica Ludovico em escala planetária. A Técnica Ludovico é aquela de Laranja Mecânica, em que um adolescente rebelde é domesticado por meio da execução contínua da Nona Sinfonia de Beethoven. Quanta música Sócrates ouviu ao longo de sua vida? Quanta música Leonardo da Vinci ouviu ao longo de sua vida? Quanta música Flaubert ouviu ao longo de sua vida? Certamente, muito menos do que um garoto de 11 anos é capaz de armazenar em seu ipod.
Ninguém parece ter percebido a malignidade da música. Exceto eu, os fanáticos por Deep Purple e o mulá Omar, que sabiamente proibiu todas as formas de música em seu Afeganistão talibã, uma experiência civilizadora cujo resultado jamais conheceremos, mas que poderia ter criado um novo Renascimento.
Último exemplo.
Ouça aqui

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