sábado, 18 de abril de 2009

Câmara apura fraude em venda de passagens da cota de deputados

Por Luciana Nunes Leal
no Estadão

A farra das passagens aéreas pagas com dinheiro da Câmara passou da esfera da falta de ética para a ilegalidade. Uma comissão de sindicância da Casa foi criada ontem para investigar a suspeita de fraude e comércio ilegal dos créditos concedidos mensalmente aos deputados. Dois casos descobertos na quinta-feira apontam a possibilidade de um mercado paralelo das cotas excedentes. As vítimas foram os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Eros Grau.Os registros de viagens pagas com as cotas de deputados mostram a emissão de passagens em nome de Mendes e sua mulher, Guiomar, com verba do gabinete do deputado Paulo Roberto (PTB-RS). Os destinos foram Fortaleza e Nova York, em julho de 2008. No entanto, o casal pagou por essas passagens R$ 9.246,34, em cinco parcelas, com cartão de crédito.No caso de Eros Grau, a passagem de São Paulo para o Rio, em 31 de março de 2008, foi emitida na cota do deputado Fernando de Fabinho (DEM-BA). O ministro tem comprovante de que o bilhete, de R$ 379,12, foi pago pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que o convidou para uma solenidade naquele dia.Na manhã de ontem, Mendes conversou por telefone com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), que determinou a abertura da sindicância. A suspeita é de que sobras de créditos sejam vendidas ilegalmente a agências de viagem, que revendem aos clientes. Esquema semelhante é investigado pelo Ministério Público Federal do Distrito Federal.Desde 2008, os procuradores apuram o envolvimento do ex-deputado Lino Rossi (PP-MT), da ex-deputada Thaís Barbosa (PMDB-MT), de dois ex-funcionários da Câmara e de um agente de viagens na fraude. Rossi e Thaís negam qualquer envolvimento e responsabilizam os funcionários.A mesma suspeita de desvios das cotas de passagens da Câmara para agências de viagens chegou ao Supremo, onde corre processo contra o deputado Luiz Bittencourt (PMDB-GO). A suspeita é de que uma agência de viagens de Maringá (PR) negociava passagens da cota do parlamentar, que nega ter conhecimento de ilegalidades.Na quinta-feira passada, o quarto-secretário da Câmara, Nelson Marquezelli (PTB-SP), pediu explicações à Diretoria-Geral ao constatar que três pessoas da mesma família viajaram para Paris com bilhetes comprados por meio das suas cotas. Marquezelli garante não conhecer nenhum dos três passageiros e não ter autorizado o uso de seus créditos. Leia mais aqui.

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