domingo, 17 de agosto de 2008

O tráfico que afronta o judiciário

No Jornal do Brasil

No relatório da Polícia Federal (PF) sobre a Operação Satiagraha ­ que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas sob acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influência ­ aparece uma curiosa conversa entre duas advogadas: Manuella Barcellos, do grupo Oportunity, de Daniel Dantas, e Juliana Medrado Tângari, do escritório liderado por Marlan de Moraes Marinho Júnior. As duas colegas de profissão foram flagradas pela escuta ­ feita com autorização judicial ­ tratando de processos que tramitam na 14ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ). O relatório da PF mostra que, para denotar a influência de seu chefe, Marlan Jr., a advogada Juliana Tângari faz referência explícita à área "em que o desembargador atua". Segundo a PF a menção ao desembargador tem significado preciso. Que naquela área, processos do interesse de Malan Jr. recebiam "atenção especial" de seu pai, o desembargador, Marlan de Moraes Marinho, aposentado em 2006. A gravação acabou trazendo à tona, para os policiais, a história de Marlan Jr., que se notabilizou durante anos por utilizar-se, no meio jurídico, do nome do pai desembargador, consolidando assim uma tradição de nepotismo e relações especiais na estrutura do Judiciário do Rio. Há mais de dez anos, o nome do advogado Marlan Jr., que também é sobrinho de desembargador e irmão de juiz de Direito, vai e vem nas notícias referentes a tráfico de influência no Judiciário. Nos bastidores, sua atuação tortuosa deu origem até mesmo à criação de uma gíria: a figura do "marlandro". O termo é utilizado nos corredores dos tribunais para designar advogados que se valem dos meios mais heterodoxos para a defesa de suas causas. Tais métodos podem envolver desde pressões a juízes em regime de plantão até o envio de causas para julgamento por parentes. O atual titular da 14ª Câmara Cível, desembargador Edson Queiroz Scisinio Dias, é nome recorrente nas relações de Marlan Jr., que atua em mais de um processo do Opportunity. Quando Daniel Dantas esteve preso em São Paulo ­ e foi solto duas vezes por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes ­ ele estava lá. Foi Marlan Jr. quem confirmou que o grupo levou ao banqueiro, então na cadeia, água, frutas e papel higiênico. O escritório de Marlan Jr. merece outra citação no relatório da Operação Satiagraha, que levou Daniel Dantas à prisão em julho. Revela o que os investigadores da Polícia Federal consideram de manobra de faturamento em operação realizada com o Grupo Opportunity. Satiagraha, do sânscrito, pode ser traduzida como "a busca da verdade". Polícia suspeita de prática corporativa suja A Polícia Federal (PF) descobriu o seguinte diálogo por e-mail, relacionando o escritório do advogado Marlan de Moraes Marinho Júnior a manobras de faturamento do Opportunity ­ o nome do escritório aparece grafado como "Marlin": "From: Peter David Atkins [maito: fatmonk@superig.com.br] Sent: Quinta-feira, 8 de maio de 2008 09:25 To: Adriana Abreu Subject: Faturamento Cara Adriana, Favor informar a empresa a ser faturada para estes 3 trabalhos: 1. 17/4 >>> 17/4 ­ Adriana `Artigos de Lei ­ O Assistente' (...): 2. 18/4 >>> 18/4 ­ Adriana Relatório de Demandas ­ Marlin Marinho Advogados ­ (...) Faturar a Opportunity Gestora de Rec. Ltda CNPJ/ MF 01.608.570/0001-21 3. 24/4 >>> 29/4 ­ Adriana ­ Carta de Auditoria - Opportunity Fund ­ (...) Opportunity Gestora de Rec. Ltda CNPJ/ MF 01.608.570/0001-21 Grato, Peter" A PF analisa a passagem da seguinte forma: "Trata-se de e-mail enviado por Adriana Abreu, funcionária do Opportunity (...). Nesta mensagem percebe-se a facilidade com que o Grupo Opportunity atua controlando os seus recursos de forma temerária. O relatório informa que, ao que tudo indica, existe faturamento por empresas que não seriam exatamente as responsáveis pelos gastos (...). Demonstra a prática corporativa suja e provavelmente utilizada de forma recorrente em outras diversas empresas do grupo (...)".

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