No relatório da Polícia Federal (PF) sobre a Operação Satiagraha que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas sob acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influência aparece uma curiosa conversa entre duas advogadas: Manuella Barcellos, do grupo Oportunity, de Daniel Dantas, e Juliana Medrado Tângari, do escritório liderado por Marlan de Moraes Marinho Júnior. As duas colegas de profissão foram flagradas pela escuta feita com autorização judicial tratando de processos que tramitam na 14ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ). O relatório da PF mostra que, para denotar a influência de seu chefe, Marlan Jr., a advogada Juliana Tângari faz referência explícita à área "em que o desembargador atua". Segundo a PF a menção ao desembargador tem significado preciso. Que naquela área, processos do interesse de Malan Jr. recebiam "atenção especial" de seu pai, o desembargador, Marlan de Moraes Marinho, aposentado em 2006. A gravação acabou trazendo à tona, para os policiais, a história de Marlan Jr., que se notabilizou durante anos por utilizar-se, no meio jurídico, do nome do pai desembargador, consolidando assim uma tradição de nepotismo e relações especiais na estrutura do Judiciário do Rio. Há mais de dez anos, o nome do advogado Marlan Jr., que também é sobrinho de desembargador e irmão de juiz de Direito, vai e vem nas notícias referentes a tráfico de influência no Judiciário. Nos bastidores, sua atuação tortuosa deu origem até mesmo à criação de uma gíria: a figura do "marlandro". O termo é utilizado nos corredores dos tribunais para designar advogados que se valem dos meios mais heterodoxos para a defesa de suas causas. Tais métodos podem envolver desde pressões a juízes em regime de plantão até o envio de causas para julgamento por parentes. O atual titular da 14ª Câmara Cível, desembargador Edson Queiroz Scisinio Dias, é nome recorrente nas relações de Marlan Jr., que atua em mais de um processo do Opportunity. Quando Daniel Dantas esteve preso em São Paulo e foi solto duas vezes por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes ele estava lá. Foi Marlan Jr. quem confirmou que o grupo levou ao banqueiro, então na cadeia, água, frutas e papel higiênico. O escritório de Marlan Jr. merece outra citação no relatório da Operação Satiagraha, que levou Daniel Dantas à prisão em julho. Revela o que os investigadores da Polícia Federal consideram de manobra de faturamento em operação realizada com o Grupo Opportunity. Satiagraha, do sânscrito, pode ser traduzida como "a busca da verdade". Polícia suspeita de prática corporativa suja A Polícia Federal (PF) descobriu o seguinte diálogo por e-mail, relacionando o escritório do advogado Marlan de Moraes Marinho Júnior a manobras de faturamento do Opportunity o nome do escritório aparece grafado como "Marlin": "From: Peter David Atkins [maito: fatmonk@superig.com.br] Sent: Quinta-feira, 8 de maio de 2008 09:25 To: Adriana Abreu Subject: Faturamento Cara Adriana, Favor informar a empresa a ser faturada para estes 3 trabalhos: 1. 17/4 >>> 17/4 Adriana `Artigos de Lei O Assistente' (...): 2. 18/4 >>> 18/4 Adriana Relatório de Demandas Marlin Marinho Advogados (...) Faturar a Opportunity Gestora de Rec. Ltda CNPJ/ MF 01.608.570/0001-21 3. 24/4 >>> 29/4 Adriana Carta de Auditoria - Opportunity Fund (...) Opportunity Gestora de Rec. Ltda CNPJ/ MF 01.608.570/0001-21 Grato, Peter" A PF analisa a passagem da seguinte forma: "Trata-se de e-mail enviado por Adriana Abreu, funcionária do Opportunity (...). Nesta mensagem percebe-se a facilidade com que o Grupo Opportunity atua controlando os seus recursos de forma temerária. O relatório informa que, ao que tudo indica, existe faturamento por empresas que não seriam exatamente as responsáveis pelos gastos (...). Demonstra a prática corporativa suja e provavelmente utilizada de forma recorrente em outras diversas empresas do grupo (...)".
domingo, 17 de agosto de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário