domingo, 1 de junho de 2008

PAC não anda, mas empresas investem em infra-estrutura

Por Fernando Canzian
na Folha de São Paulo

As obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que dependem do Orçamento federal seguem em ritmo considerado "lentamente ridículo" por empresários ligados à área de infra-estrutura.Em contrapartida, a iniciativa privada, ao lado da estatal Petrobras e de alguns Estados, já tomou a dianteira na infra-estrutura do país.Como reflexo disso, o ritmo da criação de empregos formais na construção civil ligada a obras de infra-estrutura superou pela primeira vez o das contratações do setor de edificações residenciais e comerciais.Na quarta-feira, a Casa Civil apresenta novo balanço do PAC. Dados dos primeiros cinco meses do ano (até 28 de maio) do Siafi, em que consta a execução orçamentária federal, mostram que, de um orçamento de R$ 15,7 bilhões para o PAC autorizado para 2008, só 0,74% (R$ 116,7 milhões) foi desembolsado até agora.Já os investimentos das empresas, principalmente nos setores de petróleo, siderurgia e mineração, que também têm impacto positivo para a infra-estrutura rodoviária e portuária, ganharam novo ritmo.As obras e as contratações em oito lotes rodoviários concedidos pela União à iniciativa privada também contrastam com a execução de projetos liderados exclusivamente pelo Ministério dos Transportes.De um orçamento aprovado de R$ 9,5 bilhões para a pasta em 2008, apenas 1,12% foi liquidado nos primeiros cinco meses do ano. Mesmo considerando valores pagos que pertenciam a orçamentos de anos anteriores (restos a pagar), o total pago é inferior a 20%.Os dados foram levantados para a Folha pela ONG Contas Abertas. Procurados, o Ministério dos Transportes e a Casa Civil não quiseram comentar."Nunca na história deste país um governo esteve tão bem-intencionado, com palavras, na infra-estrutura. Mas continua extremamente defasado em relação ao que pretendia fazer", diz Luiz Fernando Santos Reis, presidente do Sinicon (Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada), com 450 filiados e que representa 60% do setor.Do lado privado, Reis elenca uma série de investimentos em siderurgia e em mineração (ThyssenKrupp CSA, Usiminas, Açominas e Vale, entre outras), papel e celulose e da Petrobras como carros-chefes da modernização da infra-estrutura. Segundo ele, o setor privado e a Petrobras respondem hoje por mais de 60% dos investimentos na área."As obras federais continuam andado com muita lentidão. De concreto e quase pronto, não há nada. Está tudo ainda muito no começo", afirma Paulo Fernando Fleury, diretor do Centro de Estudos em Logística do Coppead/UFRJ.Entre projetos em ritmo inadequado ou lento, Fleury cita as ferrovias Norte-Sul, a Transnordestina e o chamado Arco Metropolitano (espécie de Rodoanel) no Rio, além de obras para dragagem em portos."Já a questão do transporte aéreo aos poucos vai voltando a apresentar os mesmos problemas que desembocaram em uma grande crise", afirma.Para Carlos Eduardo Lima Jorge, diretor-executivo da Apeop (Associação Paulista dos Empreiteiros de Obras Públicas), no entanto, é questão de tempo para que as obras públicas comecem a agregar volume na infra-estrutura."As obras já começam a acontecer em Estados e municípios. Em nível federal, houve atraso em licenças ambientais, na realização de projetos e na própria execução. Mas há muita coisa sendo iniciada agora."No Estado de São Paulo, onde as 250 empresas da Apeop abocanham mais de 80% da receita com obras, a previsão para 2008 é de um crescimento no faturamento de até 7%, contra 3% em 2007.

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