domingo, 29 de junho de 2008

Alianças municipais ignoram disputa entre Lula e oposição

Por Ranier Bragon e Silvio Navarro
na Folha de São Paulo

As alianças firmadas pelos partidos políticos para as eleições municipais de outubro ignoram, em sua maioria, a correlação de forças entre o governo Luiz Inácio Lula da Silva e as três grandes siglas que lhe fazem oposição no plano federal -PSDB, DEM e PPS. Das 26 capitais do país, em 24 há coligação entre "lulistas" e adversários -as exceções são Vitória (ES) e Florianópolis (SC).A Folha levantou os acertos já firmados e aqueles que ainda estão em fase final de negociação -as convenções terminam amanhã- nas cem maiores cidades brasileiras. Em regra, prevalecem os arranjos locais.A tendência é que as convenções confirmem o embaralhamento entre governistas e oposição em pelo menos 80% dos cem maiores municípios."O Brasil é muito desigual. Se fosse na Holanda, aí as coligações dos distritos seriam as mesmas nacionais. Aqui é uma confusão só, não dá para entender, parece até incoerente", diz o deputado federal Luciano Castro (PR-RR).Durante a semana, ele passa a maior parte do tempo em embate com DEM, PSDB e PPS, na Câmara dos Deputados, onde lidera uma das bancadas mais governistas de Brasília. Quando volta a Boa Vista, entretanto, Castro é o candidato à prefeitura da coligação que inclui DEM, PSDB e PPS."Mas aqui eu digo: "Não fale mal do Lula perto de mim, que eu não gosto"."Em pelo menos quatro capitais o PT de Lula vai às urnas aliado a tucanos, democratas ou ao PPS: Aracaju, Manaus, Porto Velho e João Pessoa. Além disso, em Belo Horizonte se aliará formal ou informalmente ao candidato de Aécio Neves (PSDB). Fora das capitais, há dobradinhas entre os petistas e a oposição nas grandes cidades."Se todas as alianças regionais são diferentes do plano nacional, isso deveria ser ainda mais forte em Belo Horizonte. Só mostra que não se ouviu o que o povo estava pedindo", afirmou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).Em São Vicente, a 20ª maior cidade de São Paulo, o PSB lidera uma coligação que inclui praticamente todos os partidos do município, incluindo o PT, o PMDB, o PSDB, o DEM e o PPS -a oposição se restringe a uma candidatura do nanico PMN."Noto um clima no país de que as pessoas querem é uma grande união das forças políticas em benefício do país. É um equívoco achar que a boa política consiste, necessariamente, em haver lados opostos. Não sei quem disse aquela frase de que toda unanimidade é burra, mas eu acho que a frase é que é burra. A unanimidade é boa", disse o presidente do PSB-SP, Márcio França, se referindo à frase do escritor e jornalista Nelson Rodrigues (1912-1980).Segundo ele -que já foi prefeito de São Vicente por dois mandatos consecutivos-, a aliança de governo e oposição em sua cidade rendeu generosas verbas tanto dos cofres federais quanto dos estaduais.Para o cientista político Carlos Ranulfo Melo, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a coalizão que sustenta o governo Lula no Congresso "é tão grande que perde parâmetros". "É um bloco que tem de tudo, esquerda e direita, e aonde cabe tudo", afirma.As coligações pelo país mostram também que o chamado bloquinho de esquerda -PC do B, PSB e PDT-, montado em 2007, não resistiu ao seu primeiro teste de fogo.Patrocinado, entre outros, pelo candidato a vice na chapa de Marta Suplicy (PT-SP), o deputado federal Aldo Rebelo (PC do B), o bloquinho surgiu em Brasília com o objetivo de se tornar uma força política similar aos blocos que dominam a cena nacional (PT, de um lado, e PSDB e DEM, de outro).Das 26 capitais, apenas em 10 o bloquinho deve sair unido, mesmo assim só em duas é cabeça de chapa -Manaus e Aracaju. Nas outras oito, continua satélite de candidaturas majoritárias do PT."O bloco não fracassou. Ele iniciou o processo de criação de seu espaço político, e isso não se dá sem dificuldade. Em São Paulo, o bloco marchou unido e tem peso significativo na candidatura da Marta. Dessa forma, se prepara para desempenhar um papel mais importante em 2010", afirmou Aldo.

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