sexta-feira, 4 de julho de 2008

Polícia investiga empresa usada por donos da Varig

Por Marcelo Godoy
no Estado de São Paulo

Uma empresa suspeita de envolvimento na conexão Brasil-Angola do tráfico internacional de cocaína é a origem da Voloex Participações e Investimentos, criada a pedido do empresário Lap Chan para exercer a opção de compra das ações dos então sócios brasileiros da VarigLog. Trata-se da Health Translating Ltda. Adquirida em 2007 por Chan Luo Wai Ohira, irmã de Lap, ela se transformou em Voloex. A operação contou com a participação do advogado Roberto Teixeira, o compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o que mostra investigação da Polícia de São Paulo, que intimou Teixeira para depor."Essa é mais uma das tentativas reiteradas de se utilizar inquéritos para constranger o senhor Lap e, agora, o Roberto", disse o criminalista Renato Marques Martins, que representa Lap e Teixeira. A constituição da Voloex foi a saída achada por Lap e pelo fundo de investimento americano Matlin Patterson para exercer a compra das ações de três sócios brasileiros e continuar no comando da empresa. Para substituir Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Eduardo Gallo, Lap e o fundo precisavam de outros sócios, também brasileiros, pois a lei proíbe estrangeiros de ter mais de 20% do capital votante de empresa aérea nacional, como a VarigLog. Em vez de arrumar novos sócios, a solução foi transferir o controle à Voloex.O inquérito policial nº 050.078002720-6/0000, distribuído à 17ª Vara Criminal de São Paulo, foi aberto para investigar associação para o tráfico de drogas, mas acabou esbarrando na operação de montagem da Voloex. Ele mostra que, mais do que atuar para que a Varig fosse vendida à VarigLog, o escritório de Teixeira arquitetou o contrato que transformou a Health Translating em Voloex Participações.Ao depor em 10 de junho, o contador João Muniz Leite disse que foi procurado em agosto de 2007 por Larissa Teixeira, filha de Roberto. Segundo ela, "um cliente queria constituir uma empresa no Brasil com a maior brevidade possível, não especificando o ramo". Por causa da greve da Receita, o contador propôs a compra de uma empresa já constituída. Assim, a Health foi adquirida a custo zero em 6 de setembro de 2007.Primeiro o nome mudou para Health Finance Participações Ltda. É quando aparece a irmã de Lap. Em 14 de setembro, o nome da empresa passou a ser Voloex e o capital subiu de R$ 1 mil para R$ 500 mil. O contador disse que se limitou a apresentar aos sócios da Health a proposta do escritório Teixeira Martins, além de fazer o registro da operação nos órgãos competentes.Leite disse que os contratos e alterações na constituição da empresa foram redigidos "no escritório Teixeira Martins". A polícia questionou se "havia ocorrido a integralização do capital social, o que devia ocorrer até 28 de setembro". Leite afirmou: "Não há indicativos de que tenha existido a efetiva integralização ou não do capital".Em 12 de março, os policiais ouviram o zelador do prédio para o qual foi transferida a Health após a venda. A empresa, antes registrada em Santana do Parnaíba, mudou-se para a Rua Padre João Manoel, em Cerqueira César. O zelador Eurípedes Elói da Silva disse que em 2007 os donos da empresa "colocaram apenas carpete na sala, porém não houve solicitação de autorização para entrada de móveis para o pleno funcionamento da empresa".Em 26 de novembro de 2007, Chan Lou retirou-se da sociedade. Foi substituída pela Volo Logistics Llc, com sede em Delaware, EUA, sendo Lap Chan seu representante no Brasil. É para esclarecer como Lap adquiriu de graça a Health Translating e a origem do dinheiro que fez com que em dois meses o capital da empresa saltasse de R$ 1 mil para R$ 3,1 milhões que a polícia quer ouvir Teixeira. O advogado faltou na primeira vez que foi intimado, dia 26, alegando outro compromisso. O caso foi enviado à Justiça e, quando voltar ao Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), nova data será marcada.

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