sexta-feira, 4 de julho de 2008

Temporão perde força no Planalto

Por Vera Rosa
no Estado de São Paulo

O desempenho do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, preocupa o Palácio do Planalto às vésperas das eleições municipais. Em conversas reservadas, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, avalia que, além de estar em rota de colisão com o PMDB, o ministro enfrenta problemas de gestão e arruma polêmica desnecessária. O sinal amarelo foi aceso porque o Planalto está certo de que a saúde será um dos principais trunfos do governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência em 2010.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não planeja substituir Temporão, ao menos por enquanto, mas há no Planalto quem sugira nova análise do cenário depois das eleições de outubro, quando a Contribuição Social para a Saúde (CSS) - que ressuscita a CPMF - tiver passado pelo crivo do Senado. Um dos nomes lembrados para o cargo é o do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), que encerrará seu mandato neste ano e é considerado um bom gestor.O diagnóstico do Planalto é de que falta um projeto de visibilidade ao ministério de Temporão. Ex-ministro da Saúde no governo Fernando Henrique, Serra, por sua vez, tem como marca a criação dos medicamentos genéricos. Cansados de ouvir queixas, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), chamaram Temporão para uma conversa, na quarta-feira.O café da manhã, na casa do deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), transformou-se num muro de lamentações. A cúpula do PMDB fez coro com deputados e senadores de outros partidos, que cobram ferozmente a liberação de emendas parlamentares. Levantamento do DEM, com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo (Siafi), mostra, por exemplo, que a pasta da Saúde reservou R$ 3,37 bilhões para investimentos, neste ano, mas até agora só pagou R$ 34,2 milhões ou 1,02%.Temer, Padilha e Alves disseram a Temporão que ou ele se "enquadrava" ou não sobreviveria após as eleições. Perdeu até o apoio de seu padrinho, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). O ministro não quis falar sobre o assunto, mas seus auxiliares observaram que a fritura política começou quando ele se recusou a atender a "pedidos inconfessáveis" do PMDB. Contaram, ainda, que a ordem é avaliar com lupa as demandas do Congresso para evitar novos escândalos, como o dos vampiros e o dos sanguessugas, que abalaram a imagem da pasta.O presidente do PMDB admite as queixas contra Temporão, mas nega que o partido vá rifá-lo. "Dissemos a ele que vamos sustentá-lo no governo", garantiu. No auge da crise com o PMDB, surgiram rumores de que o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), seria aliado de Temer para "queimar" o ministro por estar de olho na sua cadeira, a partir de 2009, quando deixará o comando da Casa. "Telefonei para Temporão e disse que, se quisesse, faria gesto público de apoio à sua gestão", afirmou Chinaglia. "Podem querer atingi-lo usando meu nome para intriga."Conhecido por defender causas polêmicas, como a restrição da propaganda de cerveja na TV, Temporão diz que não vai desistir de suas batalhas. Mesmo com as dificuldades para aprovação da CSS na Câmara, ele acredita que a contribuição receberá sinal verde no Senado. A alíquota proposta sobre movimentações financeiras é de 0,1% e o governo espera receita adicional de R$ 11,8 bilhões."Temporão é um ministro de factóides, mas o resultado concreto de suas ações é zero à esquerda", provocou o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO). "O problema do ministério não é de dinheiro, mas de gestão: temos um apagão na saúde e a dengue ameaça voltar." Para Temporão, argumentos assim refletem "profunda ignorância". "Temos de sair do discurso irresponsável de que o País arrecadou muito. A saúde precisa de regularidade de recursos", disse ele, em entrevista recente ao Estado.

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