quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Renan deve enfrentar hoje novo pedido de cassação

Por Expedito Filho e Ana Paula Scinocca
no Estado de São Paulo

O senador Jefferson Péres (PDT-AM) deve pedir hoje a cassação do presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no relatório da representação em que ele é acusado de ter usado laranjas na compra de duas rádios e um jornal em sociedade com o usineiro João Lyra, em Alagoas. Já o senador João Pedro (PT-AM) tende a propor o arquivamento da representação em que Renan é acusado de favorecer a cervejaria Schincariol na negociação de dívidas com o INSS e a Receita Federal.Os dois senadores apresentam seus relatórios hoje ao Conselho de Ética da Casa. Se não houver nenhum pedido de vista ou acordo para adiar a discussão, eles podem ser votados hoje mesmo. Nenhum dos relatores quis revelar o teor de seus pareceres. “Eu não vou adiantar o meu parecer em respeito aos colegas do Conselho de Ética”, argumentou Péres. “Vocês somente ficarão sabendo da minha decisão no dia da votação”, disse João Pedro aos jornalistas.Entre os assessores de Renan, a expectativa mais pessimista é de que o Conselho de Ética aceite as acusações da representação relatada por Péres e ele acabe sendo julgado pelo plenário. O senador Almeida Lima (PMDB-SE), fiel aliado do presidente licenciado do Senado, vai tentar uma manobra para evitar a aprovação do relatório do pedetista: apresentará um voto em separado no conselho, alegando que, da mesma forma que o senador Gim Argello (PMDB-DF), Renan não pode ser condenado por supostos atos praticados antes de ser eleito para a Casa. “A suposta compra aconteceu em 2002, antes de ele ter sido eleito senador”, argumentou.Uma quarta representação, relatada por Almeida Lima, pode ser arquivada sem nem ser apreciada. O processo, apresentado pelo PSOL, acusa Renan de envolvimento com um suposto esquema de propinas em ministérios comandado pelo seu partido, o PMDB. “Não existe fato ou denúncia. Eu estou estudando a possibilidade de não apresentar o relatório, mas isso ainda não está definido. O certo é que não existe fato contra Renan, nem mesmo uma acusação', disse Almeida Lima, ao explicar por que não apresentará seu parecer hoje.Apesar disso, o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), afirmou ontem que vai trabalhar até o início da sessão de hoje, marcada para as 14 horas, para que Almeida Lima também apresente seu relatório. “Vamos tentar liquidar a fatura logo”, avisou. A idéia é resolver os três processos até dia 22, mesmo se tiverem de ir a plenário. A licença de Renan da presidência do Senado termina dia 25.O plenário já absolveu Renan do primeiro processo, que o acusava de ter despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo. Além dessa e das três que estão tramitando, há uma última representação no conselho, ainda sem relator definido. Nela, o senador é acusado de ter espionado os colegas Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO). Essa representação ainda não tem relator definido e será a última a ser apreciada pelo Conselho. Ontem, Péres ouviu os depoimentos de três testemunhas de defesa de Renan: o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), Sérgio Pimentel, ex-dono do O Jornal, e Sérgio Ferreira, ex-diretor administrativo. Os três disseram desconhecer participação de Renan na compra dos veículos de comunicação em sociedade com Lyra.Teotônio e Pimentel passaram a maior parte do depoimento, a portas fechadas, desqualificando o acusador de Renan. “João Lyra odeia Renan, é um homem de imagem inidônea pela história de vida, um homem sem escrúpulos. Eu sou alagoano e me sinto no direito de vir aqui jogar flores na Geni”, ironizou o governador, comparando Renan a Geni é personagem de uma das músicas da Ópera do Malandro, de Chico Buarque.Pimentel foi na mesma linha, acusando Lyra de não ter honra nem ética, segundo participantes da sessão fechado. O empresário disse ter pedido ajuda de Renan para vender seu grupo de comunicação e ele o apresentou a Lyra, ou seja, foi apenas um intermediário. Pimentel insistiu em que Renan não participou da negociação e até se retirou da sala quando ele e Lyra começaram a discutir a venda.

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