quarta-feira, 9 de julho de 2008

Para membros do conselho, defesa de Paulinho é frágil

Por Maria Clara Cabral
na Folha de São Paulo

O depoimento do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical, teve, na opinião dos membros do Conselho de Ética da Câmara, dois pontos vulneráveis: a explicação sobre o cheque de João Pedro de Moura, no valor de R$ 37,5 mil, destinado para a ONG Meu Guri, e a ligação do parlamentar com o coronel da Polícia Militar, Wilson Consani.Ontem, por cerca de duas horas, Paulinho deu explicações aos membros do conselho e negou as acusações de participação em esquema de desvio de dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).No depoimento, Paulinho tentou explicar diversas vezes a transação realizada com Moura em torno de um apartamento. Segundo o deputado, Moura, que foi conselheiro do BNDES, teria doado o imóvel, avaliado em cerca de R$ 80 mil, para a Meu Guri, presidida por Elza Pereira, mulher do deputado. Como não foi vendido e acumulou dívidas, Moura deu o cheque de R$ 37,5 mil para "comprar de volta" o apartamento."Ele precisa dar uma explicação mais contundente, pois essa está muito vulnerável. São questões que ainda precisam ser respondidas", disse o relator do processo no conselho, Paulo Piau (PMDB-MG).Paulinho também admitiu que conhecia "e bem" Moura e que o ex-assessor esteve diversas vezes em seu gabinete para conversar sobre a Força Sindical. O deputado negou saber que Moura usava cartões com seu nome, mas admitiu que as gravações interceptadas pela Polícia Federal com citações de "Paulinho" dão a entender que se referem a ele."Não nego que o conhecia [Moura], e bem, e que várias vezes ele esteve em meu gabinete. Não nego que o Paulinho citado [nas conversas] induz a ser Paulo Pereira da Silva. Mas nego as acusações. Não é preciso ir longe para conhecer alguém que use o nome de outro para obter prestígio", disse.Em seu relatório, a PF constatou que Moura figurou formalmente como testemunha da doação de R$ 1,32 milhão feito pelo BNDES para a ONG Meu Guri. Meses depois de assinar o contrato prevendo a liberação da verba, Moura foi nomeado conselheiro do banco.Outro ponto fraco do depoimento, na opinião dos membros do colegiado, é a ligação de Paulinho com o coronel da Polícia Militar, Wilson Consani, apontado pela PF como operador do esquema de desvio de verbas do BNDES.O pedetista admitiu ainda que falou com Consani na véspera em que a Operação Santa Tereza foi deflagrada. Paulinho alega, porém, que a gravação divulgada que falavam sobre uma "operação" não era a da PF, e sim uma operação que envolvia uma das filhas do deputado.No relatório do corregedor-geral da Câmara, Inocêncio Oliveira (PR-PE), é citada uma ligação, interceptada pela PF, em que Adriana Consani, mulher de Consani, conversa com seu marido sobre o contato feito com Paulinho para falar sobre as prisões realizadas pela operação. Apesar de o relatório da PF mostrar que, durante a conversa, o casal fez seis citações a Paulinho, o deputado nega ter feito qualquer contato com Adriana. "As informações dele são completamente divergentes da corregedoria", disse Efraim Filho (DEM-PB).

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