quinta-feira, 10 de julho de 2008

EUA querem aproximar Brasil e Colômbia

Por Andrea Murta
na Folha de São Paulo

Poucas horas após chegar de uma visita a Bogotá, o secretário-adjunto de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, deixou no ar um recado ao Brasil: é chegado o momento de fortalecer relações com a Colômbia."A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Colômbia [nos dias 18 a 20 próximos] vai ser bastante importante para o Brasil e para Bogotá. De todos os países da América do Sul, talvez a relação do Brasil com a Colômbia seja a menos desenvolvida, por razões históricas e pelo isolamento que a Colômbia sofreu por muitos anos devido à sua luta interna", disse Shannon em entrevista ontem em São Paulo.Exibindo pulseira com as cores nacionais colombianas no braço direito, o secretário-adjunto afirmou que a "Colômbia representa hoje um aspecto muito importante do futuro da América do Sul", por seu "êxito na política de segurança democrática" e pela busca de relações comerciais globais. "Uma forte relação entre Brasil e Colômbia seria importante para todo o continente."Shannon não foi o único a lembrar a percepção de frieza entre os dois países após o resgate, na semana passada, de 15 reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) pelo Exército colombiano. A reação do Brasil à ação foi tida como mais discreta do que a dos demais países da região -Lula pediu que o chanceler Celso Amorim cumprimentasse o governo colombiano.Sobre as Farc, o diplomata disse que seu governo não se opõe a negociações com o grupo, apesar de os EUA tradicionalmente serem contra contatos com organizações que considera terroristas. "Não somos contra negociações, somos contra concessões. Somos realistas", disse.Mas ele defendeu que a Colômbia negocie com as Farc da mesma maneira que negociou, pelo menos oficialmente, com os grupos paramilitares de direita, que concordaram em se desmobilizar em 2005. "Não há um processo de paz que os reconhece como iguais. Os paramilitares têm que se submeter ao Estado e à Justiça. E os membros têm que se reintegrar à sociedade como indivíduos, não como bloco. Pode ser feito o mesmo com as Farc."
Terceiro mandato
Shannon evitou condenar a possibilidade de Uribe concorrer a um terceiro mandato consecutivo, como vêm pleiteando seus partidários. "É um assunto supersensível e interno da Colômbia. Seria um erro da parte dos EUA expressar uma opinião antes que os próprios colombianos possam discuti-lo."Ele lembrou também o impacto político forte que o resgate da ex-candidata à Presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, teve no país. A popular ex-refém tende a se alinhar à esquerda de Uribe e tem potencial para alterar o cenário local."Com a capacidade do governo [Uribe] de eliminar os paramilitares, de marginalizar o ELN [Exército de Libertação Nacional] e de golpear fortemente as Farc, se abre mais espaço político no país. Algum líder vai ocupar esse espaço", diagnosticou. Ele afirma, porém, que ainda é cedo para avaliar o papel futuro de Ingrid.
Quarta Frota
Shannon abordou ainda um assunto que vêm tirando o sono de governos latinos: a reativação da Quarta Frota da Marinha dos EUA, a partir do próximo sábado, para defender interesses americanos nas águas da América do Sul e do Caribe.Para o secretário-adjunto, a reativação é uma questão administrativa. "As embarcações que operam ao redor das Américas não mudam. A Quarta Frota não tem capacidade ofensiva, não tem porta-aviões nem submarinos. O trabalho local continua o mesmo, que é principalmente de ajuda humanitária e interdição de tráfico de drogas e pessoas."Ele garante ainda que haverá respeito às águas nacionais. "Não nos interessa e não temos razões para navegar em rios ou áreas litorâneas onde o mar pertence a um Estado."Para reforçar a resposta americana, além de Shannon o Embaixador dos EUA no Brasil, Clifford M. Sobel, falou sobre a Quarta Frota ontem aos senadores Pedro Simon (PMDB-RS), Eduardo Suplicy (PT-SP), Cristovam Buarque (PDT-DF) e João Pedro (PT-AM).Shannon manifestou otimismo com a relação entre os EUA e a América Latina. Elogiou até o venezuelano Hugo Chávez: "Ele disse a nosso embaixador na Venezuela que sente falta dos cafés da manhã que tinham juntos. Isso para nós é muito bem vindo".

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