sexta-feira, 2 de maio de 2008

Lula cria conselho do PMDB para evitar que partido fuja da base

Por Tânia Monteiro, Christiane Samarco e Rui Nogueira
no Estado de São Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu criar uma espécie de conselho permanente do PMDB para consultas políticas regulares entre o Planalto e a cúpula partidária e para tentar, apesar das desavenças provocadas com a disputa pelas prefeituras, segurar os peemedebistas na base aliada.Depois do que ocorreu em São Paulo e do que está acontecendo em Salvador, Lula tem medo de que o PMDB fuja por completo da base nas eleições municipais de outubro e, por ser uma legenda de poderes regionais, não dê mais "cola político-eleitoral" nem para os governos estaduais nem para a sucessão presidencial de 2010.A primeira reunião informal do conselho do PMDB foi realizada na manhã de quarta-feira, no Planalto, em um encontro extra-agenda oficial. Estavam lá, além do presidente, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que desembarcara em Brasília de madrugada, depois de uma viagem a Quito (Equador); o deputado Michel Temer (SP), presidente do PMDB; o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN); e o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira. Ficou acertado que o conselho peemedebista vai ser integrado por Temer, Jobim, Alves e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (BA).Na reunião de anteontem, apesar de dizer o tempo todo que vai trabalhar por um candidato único da base aliada à sua sucessão, Lula sentiu, diante da sinceridade dos interlocutores peemedebistas, que essa tarefa política tem contornos de missão impossível.Em resposta às idéias gerais para alinhavar, desde já, um futuro político comum entre PMDB e PT, o presidente só ouviu más notícias, que podem ser resumidas em pelo menos três constatações.
PROJETO
Lula disse que era preciso pensar em um projeto nacional para incluir o PMDB e ouviu que isso é uma tarefa difícil de se concretizar porque o partido exige outro tipo de abordagem. O que os peemedebistas querem saber é o que o poder regional do PMDB ganha com a articulação política nacional. O presidente foi aconselhado a esquecer a idéia de que os poderes regionais do PMDB se submeteriam aos interesses de uma candidatura nacional.Ele também ouviu que o PT é um mau parceiro em matéria de alianças. Enquanto o PMDB apóia candidatos petistas em pelo menos oito capitais (Belém, Curitiba, Fortaleza, Maceió, Natal, Teresina, Vitória e Porto Velho), o PT, só com muito esforço, aceitou apoiar a candidatura de Iris Rezende (PMDB) na disputa à Prefeitura de Goiânia. A decisão petista a favor de Iris saiu por diferença de um voto numa convenção em que o placar final foi 116 a 115.Os peemedebistas ainda lembraram a Lula o que está acontecendo em Salvador, cidade onde o PT não apóia o candidato do PMDB e lançou quatro pré-candidatos petistas.
PT REGIONAL
Na opinião dos líderes do PMDB, o partido não pode, agora, fechar acordos para 2010 ainda que o presidente Lula se diga avalista dos acertos. O PMDB acredita que o PT pós-Lula guarda semelhança com a história do MDB depois da redemocratização, quando a frente partidária anti-regime militar se transformou em uma confederação de feudos regionais que nunca ganhou a Presidência da República em eleições diretas, mas é campeã nas eleições municipais, amealhando o maior número de prefeituras e vereadores Brasil afora.Segundo resumiu ao Estado uma das lideranças do PMDB que estiveram com o presidente, Lula e o lulismo são maiores do que o PT e o petismo. Assim, a máquina partidária petista quer se consolidar nas eleições municipais por saber que esse seria o antídoto contra a eventual perda do poder federal.O presidente Lula ficou preocupado com a desenvoltura com que o DEM, em São Paulo, abordou o ex-governador Orestes Quércia, que domina o PMDB regional, e o transformou em aliado preferencial do candidato à reeleição Gilberto Kassab (DEM). E mais incomodado ficou com as declarações posteriores de Quércia, dizendo que "o País precisa mudar o governo do PT" e hoje "só existe a alternativa Serra para derrotar o governo Lula". O PMDB do conselho minimiza essa situação e argumenta que "é uma coisa paulista".

Nenhum comentário: