terça-feira, 29 de abril de 2008

"Sobre a popularidade de Lula" por Diogo Mainardi

Como o site da revista Veja passou a publica na íntegra o podcast de Diogo Mainardi passarei a colocar aqui a sua edição mais recente. A publicada hoje é uma análise da popularidade de Lula. Diogo compara a popularidade do ex-presidente Bill Clinton com a de Lula. Clinton, em 1998 estava envolvido no escândalo da estagiária Mônia Lewinsky. Mesmo mentindo em juízo sua popularidade não foi afetada. O mesmo acontece com Lula: mesmo com os crimes cometidos no seu governo sua popularidade continua a cada pesquisa mais alta. Segue abaixo a íntegra do podcast. Para ouví-lo clique aqui.
Em janeiro de 1998, a dois anos e meio do fim do segundo mandato, o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, tinha 73% de aprovação dos eleitores. Só para lembrar: duas semanas antes da realização da pesquisa, ele mentira em juízo, negando num tribunal que tivesse mantido relações sexuais com Monica Lewinsky. A mentira desencadeou um processo de impeachment contra ele, que durou até os primeiros meses de 1999. O que aconteceu com sua popularidade? Nada. Continuou lá em cima, no patamar dos 73%. Quando ele deixou o cargo, no final de 2000, sua aprovação ainda estava em 68%.
Lula é popular. Sua aprovação está beirando os clintonianos 70%. Criaram-se alguns mitos em torno disso. Primeiro mito: Lula é um caso inexplicável, atípico. Segundo mito: a oposição não deve fazer oposição, se seu objetivo é ganhar em 2010. Terceiro mito: Lula pode fazer o que bem entende e, se ele não se candidatar a um terceiro mandato, deveremos agradecer unicamente ao seu espírito democrático.
Três engodos. A popularidade de Clinton se manteve alta porque a economia americana, de 1997 até 2000, cresceu a uma taxa superior a 4% ao ano. É exatamente o que está acontecendo com Lula. O eleitorado é assim mesmo: maricas e reacionário. Isso não significa que a discussão sobre o país tenha de ficar paralisada. Pelo contrário. A estratégia dos republicanos foi bater cada vez mais forte em Clinton. Deu certo. Apesar de manter a popularidade, Clinton perdeu a capacidade de ditar a agenda política dos Estados Unidos, tornando-se progressivamente mais irrelevante. O tempo passou e, hoje em dia, ele é um peso morto até mesmo para a campanha de sua mulher.
Em minha
última coluna, tratei do caso do ministro da Pesca. Em 2006, num ato público, ele fez campanha eleitoral para Lula. O episódio é pequenininho, porque o ministro da Pesca é pequeninho (note que, cuidadosamente, evitei chamá-lo de "peixe pequeno"), mas é exemplar do que acontece nos cafundós do país. O abuso da máquina estatal corrompe a democracia, e o que surpreende, na verdade, é que a popularidade de Lula não seja ainda mais alta. O aspecto extraordinário do caso do ministro da Pesca é outro: ele foi filmado. Apresentei as imagens inéditas no portal da Veja. A ilegalidade de seu ato é indiscutível. A questão agora é saber se ele será punido ou não. Estou me lixando para o ministro da Pesca. Por mim, ele pode passar o resto da vida fazendo campanha eleitoral em Limoeiro do Ajuru. Aliás, é o que eu sinceramente desejo a ele. Mas o caso tem o poder de revelar o grau de esfarelamento institucional do Brasil. Há uma diferença entre aprovar um presidente e tornar-se cúmplice dos crimes cometidos durante seu governo. Essa é a diferença que está em jogo. A diferença entre o presente e o futuro. Entre um país de verdade e um país de mentira.

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