segunda-feira, 21 de abril de 2008

Para base, dossiê até favoreceu Dilma

Por Marcelo de Moraes
no Estado de São Paulo

Antes mesmo da conclusão das investigações sobre a responsabilidade pela elaboração e vazamento do dossiê sobre gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e seus ministros, políticos governistas já avaliam que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, se fortaleceu politicamente com o episódio. Para eles, não há provas indicando o envolvimento da "mãe do PAC", conforme apelido dado pelo presidente Lula, com a tentativa de pressionar a oposição a frear as investigações contra o governo na CPI dos Cartões.Mais: nessa avaliação, os governistas acham que Dilma acabou aumentando a sua exposição política. Foi defendida publicamente em eventos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e se fortaleceu como pré-candidata à sua sucessão.Pesquisas de avaliação eleitoral à disposição do Palácio do Planalto indicam até mesmo o aumento da preferência por Dilma em uma eventual corrida sucessória. Segundo assessores próximos do presidente, pela primeira vez ela teria saído de patamares mínimos, de 1% a 3%, e passado para algo em torno de 5% a 7%.Além disso, a associação da ministra à gestão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), principal pacote do governo para promover o crescimento econômico do País, também aumentou a sua exposição política. Como efeito colateral, isso também fez com que ela se tornasse alvo natural dos partidos de oposição.Para os governistas, Dilma tem suportado bem a pressão. "Acho que foi um tiro da oposição que saiu pela culatra. Eles acharam que ela se desintegraria politicamente por causa dos ataques. Só que a ministra Dilma se expôs e, de quebra, parte maior da população passou a tomar conhecimento de sua identidade política", avalia o líder do PT na Câmara, deputado Maurício Rands (PE). "A ministra passou por um forte teste de exposição e se saiu bem", concorda o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), que endossa a tese de que a oposição cometeu um erro estratégico ao centrar seus ataques em Dilma.
SITUAÇÃO REAL
Se os governistas demonstram grande otimismo, na prática a situação de Dilma ainda não é tão tranqüila como desejariam. Apesar da redução da pressão sobre a titular da Casa Civil - acusada pela oposição de envolvimento na produção do dossiê -, a Polícia Federal ainda não concluiu sua investigação. Se Dilma for considerada responsável por algum procedimento irregular, seu nome perderá força na corrida sucessória.Além disso, ela precisa sobreviver à audiência pública que foi aprovada na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, presidida pelo senador tucano Marconi Perillo (GO), onde será indagada sobre a montagem do dossiê.Sabendo que a audiência terá um tom totalmente político, os governistas pretendem blindar a ministra durante a sessão, com grande comparecimento dos integrantes dos partidos aliados, instruídos a sair em sua defesa e a elogiar seu trabalho no ministério. A audiência acontecerá em data ainda a ser definida - entre 29 de abril e 5 de maio.
DIVISÃO
A própria oposição está dividida sobre os efeitos da audiência. Há uma semana, durante encontro em São Paulo, parlamentares do PSDB e do DEM admitiram que a audiência poderia até ajudar a consolidar a imagem de Dilma, o que prejudicaria os tucanos, que dispõem de dois nomes fortes para a disputa sucessória: os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves.Um dos dirigentes partidários da oposição chegou a afirmar na conversa que "todos os ministros se saem bem nessas audiências e isso acaba não ajudando em nada".O presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), porém, contesta essa avaliação. Para ele, a ministra demonstrou muita irritação e dificuldade de se expressar quando concedeu entrevista coletiva para rebater informações sobre a participação da Casa Civil na montagem do dossiê.Por esse motivo, Maia defende uma participação intensa da oposição durante a sessão da Comissão de Infra-Estrutura. "Acho que ela não tem como se sair bem durante a audiência. As explicações que a ministra tem dado são insuficientes e isso vai ficar claro na reunião.""Além disso, não há porque temer pelo crescimento eleitoral da ministra Dilma. Alguém duvida de que qualquer candidato do PT, nas circunstâncias políticas e econômicas atuais, não terá pelo menos 25% das intenções de voto?", salienta o dirigente do DEM. "Pode ser qualquer um, inclusive a Dilma, porque esse será o patamar mínimo que Lula vai transferir para quem for escolhido como seu candidato", acredita.

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