quinta-feira, 24 de abril de 2008

Governo prevê aumento de 12,1% nas despesas, mesmo sem a CPMF

Por Ribamar Oliveira e Sergio Gobetti
no Estado de São Paulo

Mesmo sem contar com a receita da Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira (CPMF), o governo federal projeta um aumento nas despesas de 12,1% este ano em relação a 2007, de acordo com o decreto de programação orçamentária e financeira, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e divulgado ontem pelo Diário Oficial da União. Isso significa que as despesas crescerão mais do que o Produto Interno Bruto (PIB), cuja expansão nominal prevista é de 10,9%. Caso a inflação fique em torno de 4,5% (a meta oficial), o crescimento real dos gastos será de 7,3%.O aumento ininterrupto das despesas, acima do PIB, é um dos principais fatores de discórdia entre as alas do governo. Enquanto alguns economistas, principalmente do Banco Central, criticam a expansão dos gastos, alegando os efeitos sobre o aquecimento da economia num momento em que a inflação está em alta, assessores do Ministério da Fazenda argumentam que não é possível segurar essas despesas sem comprometer a área social e os investimentos em infra-estrutura. Esse dilema fica mais evidente quando se observa que o peso das despesas previdenciárias e assistenciais no gasto total do governo cresceu de 41% em 2002 para 46% em 2007-2008.No total, as despesas primárias (não incluem as despesas financeiras, como juros) aumentarão R$ 55,8 bilhões este ano em relação a 2007. Esse crescimento dos gastos só será possível porque, mesmo sem a CPMF, a receita total do governo central (Tesouro Nacional, Previdência e Banco Central) atingirá R$ 687,1 bilhões, o que representará aumento de 10,6% em relação a 2007. A elevação nominal da receita será de R$ 66,75 bilhões, segundo o decreto presidencial.Se forem excluídas as despesas com os benefícios previdenciários, os gastos correntes e com investimentos do Tesouro Nacional aumentarão 14,8%. Os gastos do governo central com pessoal, por exemplo, apresentarão este ano crescimento nominal de 7,9% em relação ao ano passado, de acordo com o decreto, o que dará um aumento real superior a 3%.Essa elevação real é superior à que o próprio governo propôs no projeto de lei destinado a limitar gastos com pessoal, que está parado na Câmara. Pelo projeto, a despesa de cada Poder com o funcionalismo não poderia subir mais do que 1,5% ao ano, em termos reais.Individualmente, os componentes da despesa corrente que mais crescerão em 2008, pelo decreto, serão o complemento da União para o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Básico (Fundeb) - 55% - e as despesas com sentenças judiciais - 38,1%. O governo projeta também uma forte elevação dos investimentos. Os gastos com o Projeto Piloto de Investimento (PPI), por exemplo, poderão crescer 171% este ano em relação a 2007, se a programação do decreto for executada.Embora o governo projete alta de 8,1% nas despesas da Previdência, os demais gastos da seguridade social, como o seguro -desemprego e os benefícios a idosos e deficientes, seguem em elevação acelerada. As despesas com a Lei Orgânica da Assistência Social (Loas) crescerão 18,9% este ano, comparado com 2007. Os gastos com abono salarial e seguro-desemprego aumentarão 17,3%.No balanço final, o corte efetivo feito pelo governo nas despesas orçamentárias deste ano foi de apenas R$ 1,578 bilhão. A lei orçamentária de 2008 fixa as despesas primárias em R$ 518,014 bilhões, enquanto o decreto presidencial projeta R$ 516,436 bilhões.

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