sábado, 23 de maio de 2009

Ela e os golpistas

Por Otávio Cabral e Alexandre Oltramari
na Veja

Desde a eleição do presidente Lula, em 2002, o PT trabalha com a meta explícita de se manter no poder por vinte anos. É uma aspiração justa e natural de um grupo que construiu uma história e se legitimou politicamente no Brasil. Antes de cair em desgraça no escândalo do mensalão, o candidato natural à sucessão de Lula era o ex-ministro José Dirceu. A segunda opção lógica recaiu sobre o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, também abatido na investigação sobre a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Desde o ano passado, a opção vem sendo Dilma Rousseff, a gestora eficiente, gerente do governo e coordenadora das principais obras federais. Há um mês, porém, a ministra descobriu ser portadora de um câncer linfático. Como, ainda mais do que a natureza, a política abomina o vácuo, a quase certeza médica da cura total da ministra tem sido pouco para neutralizar os movimentos de busca de um novo candidato. Na semana passada, Dilma foi internada às pressas em São Paulo para tratar dos efeitos colaterais do tratamento quimioterápico a que se submete (veja o quadro). O apelo da ministra para que não misturassem sua saúde a questões políticas caiu no vazio. A notícia atiçou os aliados do governo, que, mais uma vez, se encarregaram de fundir as duas coisas, só que agora acoplando alternativas golpistas – como a de um terceiro mandato para Lula ou a simples prorrogação do atual mandato do presidente.
O deputado Jackson Barreto, do PMDB de Sergipe, que se diz amigo de Lula desde os tempos do sindicalismo, anunciou que vai apresentar na Câmara um projeto de emenda constitucional que prevê a realização de um plebiscito para que a população decida se Lula poderá concorrer a um terceiro mandato. O deputado Sandro Mabel, líder do PR, outro partido aliado do governo, apareceu com uma novidade de arrepiar: ele quer aprovar um projeto de sua autoria prevendo a prorrogação por mais dois anos dos mandatos do presidente, dos governadores, senadores, deputados federais e estaduais. A justificativa oficial é permitir a coincidência do calendário eleitoral em 2012. Até o fim da reeleição com a adoção de mandatos de cinco anos, o que daria mais um ano de Presidência para Lula, voltou a ser discutida como alternativa em reuniões de congressistas aliados do governo.
Em viagem oficial ao exterior, Lula tornou a afirmar que rejeita a proposta de um terceiro mandato: "Não discuto essa hipótese. Primeiro, porque não tem terceiro mandato. Segundo, porque Dilma está bem". É uma negativa protocolar, já que o assunto está sendo discutido inclusive por ministros e assessores próximos ao presidente. Na terça-feira, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, participou de um jantar com líderes do governo na Câmara no qual foi discutido abertamente o terceiro mandato. Na manhã seguinte, o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, promoveu um café da manhã com ministros, deputados e senadores que teve o tema como um dos pontos do cardápio. Na noite de quarta-feira, em um jantar na casa do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, o partido decidiu abraçar a tese do terceiro mandato e acelerar a tramitação do projeto de Jackson Barreto, aquele amigo do presidente. "Lula diz que não quer, não vai se mexer publicamente, mas não desautoriza ninguém a defender o terceiro mandato. Se cair no colo dele, não vai reclamar", afirma um líder da base.
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