domingo, 25 de janeiro de 2009

25 anos das Diretas Já!

Por Fernando Barros de Melo e José Alberto Bombig
na Folha de São Paulo

Transcorridos 25 anos do ápice do movimento pelas Diretas-Já, pesquisa Datafolha revela que a aprovação do brasileiro à democracia atingiu seu mais alto patamar. Simultaneamente, é a primeira vez desde que o instituto iniciou a série de levantamentos que a maior parte da população defende a obrigatoriedade do voto.De acordo com o Datafolha, 53% são favoráveis ao voto obrigatório, contra 42% de 1994, a primeira vez que o instituto pesquisou o tema.Outro recorde é o apoio à democracia. O levantamento revela que 61% acham que ela é a melhor forma de governo. A série histórica começou em 1989, quando os brasileiros voltaram a votar para presidente. O índice era de 43% e oscilaria para 42% três anos depois, sua menor marca, no fim da gestão de Fernando Collor de Mello.Para estudiosos e personalidades, os números revelam a consolidação da democracia, mas ainda existem riscos ao sistema e é preciso aperfeiçoar o controle do financiamento de campanhas, alvo de grandes escândalos após 1984, quando, há exatos 25 anos, no 430º aniversário de São Paulo, uma multidão estimada em 300 mil pessoas lotou a praça da Sé pelo direito de votar para presidente."A população se deu conta de que a democracia política pode gerar democracia social", diz o historiador José Murilo de Carvalho, autor de "Cidadania no Brasil - O Longo Caminho".O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, aponta a relação entre os índices de popularidade do presidente Lula e os resultados do levantamento. "A defesa da democracia ou da ditadura quase sempre costuma seguir a avaliação do governante."Outro aspecto destacado por Paulino é a relação com o momento econômico: "Em geral, quando o bolso vai bem, a avaliação que se faz do governante também tende a ser melhor".Em dezembro do ano passado, no início da atual crise econômica mundial, o mesmo Datafolha apontou que 70% dos brasileiros consideravam o governo Lula ótimo ou bom.Para este mais recente levantamento, o Datafolha ouviu 3.486 brasileiros, entre os dias 25 e 28 de novembro de 2008, em 180 municípios. A margem de erro máxima da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.São mais favoráveis ao voto obrigatório as mulheres (57%), os mais jovens (59%), os que possuem ensino fundamental (58%) e aqueles que têm renda de até dois salários mínimos (60%), os que não são economicamente ativos (57%) e os que avaliam o governo Lula como ótimo ou bom (57%).Para o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, não há uma relação direta entre apoio ao voto obrigatório e aumento do apreço à democracia. Segundo ele, no atual estágio, a sociedade pode debater se a medida deve ser mantida."Mas acho que o voto obrigatório no Brasil ajudou nessa revolução cívica", diz.A maior evolução no apoio à democracia está entre os que possuem ensino fundamental (de 49% para 56%) e entre os que têm renda de até cinco salários mínimos (de 53% para 61%). "Os pobres estão percebendo que o voto pode alterar positivamente a política pública e não apenas gerar vantagens individuais", diz Carvalho.Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o bem-estar econômico ajuda. "A população sentiu que através da democracia foi possível melhorar a vida. O que não quer dizer que havendo dificuldade econômica todos vão contra a democracia", afirma FHC.Autor de "História do Voto no Brasil", o cientista político Jairo Nicolau diz que o principal desafio no futuro é a questão do financiamento e da falta de transparência nas contas. "O desafio que afeta a democracia é o controle de gastos, o papel do dinheiro na política. E há uma visão reducionista de que a única alternativa seria o financiamento público exclusivo", afirma Nicolau.Nos últimos anos, grandes escândalos tiveram vinculação direta ou indireta com o financiamento das campanhas, entre eles o impeachment de Collor e o mensalão, em 2005, quando o presidente Lula insinuou que o caixa dois eleitoral ocorre "sistematicamente".

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