domingo, 21 de setembro de 2008

Polícia apura elo de morte em GO com "crime da motosserra

Por Cíntia Acayba e Matheus Pichonelli
na Folha de São Paulo

O assassinato, no interior de Goiás, de uma quarta testemunha dos crimes envolvendo o ex-deputado Hildebrando Pascoal, 56, levou a Polícia Civil do Estado a instaurar inquérito para investigar se há relação entre o homicídio e a ação do grupo de extermínio que atuou no Acre nos anos 90.A 2.517 quilômetros de Rio Branco, onde atuou como policial militar, Manoel Décio de Lima, 42, foi encontrado morto no último dia 28 numa lavoura em Chapadão do Céu (GO). Ele havia deixado o Acre, seis anos atrás, por segurança. O caso é investigado pela Polícia Civil de Jataí, cidade vizinha.O assassinato ocorreu 12 anos após o chamado "crime da motosserra" -Agilson Firmino, o "Baiano", motorista de um suspeito de ter matado o irmão de Hildebrando, foi torturado e teve o corpo serrado em suposta ação do grupo liderado pelo ex-deputado, em 1996.O julgamento do caso, cujo processo tem 1.869 páginas, deve ocorrer no final deste ano.Ex-coronel da Polícia Militar no Acre, Hildebrando está preso em Rio Branco desde 1999 e já foi condenado a mais de 70 anos de prisão em pelo menos cinco processos, entre homicídios, crime eleitoral e tráfico internacional de drogas.Segundo o procurador Sammy Lopes, coordenador do grupo de atuação especial de prevenção e repressão às organizações criminosas do Ministério Público do Acre, a morte em Goiás do ex-policial, que estava sob medida de proteção isolada a testemunhas e já havia deposto em dez casos envolvendo o grupo de Hildebrando, teve características semelhantes aos assassinatos anteriores -Décio levou oito tiros de pistola no corpo e na cabeça.Um policial civil, um bombeiro e um caseiro que haviam deposto ou iriam depor à Justiça foram mortos como "queima de arquivo", afirma Lopes.Os dois primeiros foram mortos antes de formalizarem pedido para integrar o programa de proteção; o caseiro se recusou a entrar no programa.Segundo Lopes, Décio ajudou a esclarecer casos de mortes sob encomenda ou contra desafetos de Hildebrando.A delegada Paula Ruza, responsável pelo inquérito, não descarta a hipótese de "queima de arquivo", mas afirma que Décio, presidente do sindicato rural local, colecionou brigas na cidade, de 5.289 habitantes.Décio morava com a mulher e dois filhos em Chapadão do Céu, para onde a família se mudou há dois anos, e entrou para o programa de proteção à testemunha em 2004.Ele teve ajuda para se mudar e escolta policial quando se deslocava para audiências na Justiça -recebeu o benefício por determinação do conselho estadual do programa e optou pela proteção isolada. Se tivesse optado pela proteção integral, ficaria incomunicável até mesmo com familiares em seu Estado de origem.Advogado de Hildebrando, Sanderson Moura afirma que a suspeita sobre o cliente é "coisa de mente insana".Segundo a Folha apurou, Décio já havia sido advertido pela coordenação do programa no Acre por causa do envolvimento com o sindicato.Em novembro de 2007, 561 pessoas faziam parte do programa no país. Segundo a secretaria, entre 1998 e 2006, foram atendidas 2.265 pessoas -74% delas foram desligadas por não correrem mais riscos, e 16%, excluídas por rejeitarem normas. Não há registro de mortes entre eles no período.

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