domingo, 21 de setembro de 2008

Campanha fria no Rio

Por Idelina Jardim
no Jornal do Brasil

Apesar de faltarem duas semanas para a votação, a campanha para prefeito do Rio ainda não esquentou. A frieza é atribuída especialmente à falta de debates ­ até agora dois deles, marcados por emissoras de TV, foram cancelados por discordância do candidato do PDT, Paulo Ramos. ­ Falta discussão, e os eleitores estão desmotivados pela sucessão de eleições ­ analisa o professor de opinião pública da Uerj, Herich Ulrich. Especialista em marketing, o publicitário Rodrigo Ganem diz que o problema só ocorre na capital: ­ Na Baixada está a todo o vapor e nos bairros da periferia tende a esquentar cada vez mais, com a participação ativa da população ­ acredita. ­ Na capital, o carioca está cansado de tantas histórias e maus tratos por parte dos políticos. Para o cientista político, Marcus Figueiredo, a eleição municipal este ano está mesmo "sem graça", com pouco calor se comparadas às campanhas anteriores: ­ A ultima eleição que valeu a pena discutir na rua foi a de 1992: César Maia contra Benetita. De lá para cá, a política perdeu espaço, e entrou no seu lugar a disputa pela administração eficiente. A entrada do Exército em comunidades dominadas por tráfico e milícia contribui para o descredito, acredita o publicitário Ganem: ­ Ter que chamar a força nacional para garantir a segurança é muito feio para o Rio e preocupante. Traz um pouco desse cansaço.
Candidatos têm esperança
Os candidatos a prefeito acham que, nesta reta final, a tendência é esquentar. Para a candidata Solange Amaral (DEM) isso se dará quando os indecisos decidirem seus votos. ­ Em algum momento vai esquentar. Quando as pessoas começarem a conversar umas com as outras, o alto índice de indecisos vai se transformar em decisão de voto. Neste momento, as pessoas ainda estão vendo quem está com quem. Segundo pesquisa induzida do Datafolha realizada entre os dias 17 e 18 de setembro, o Rio tem 6% de indecisos. Uma queda significativa, em relação ao levantamento anterior, feito entre os dias 4 e 5 de setembro, que registrava 47%. Nas cidades de São Paulo e Porto Alegre o percentual de indecisos é de 4% , enquanto Recife registra 3%. A última pesquisa Ibope, feita entre os dias 9 e 11 de setembro, no entanto diz que a porcentagem de indecisos na capital é de 11%. A linha estratégica de Solange, também vale para Alessandro Molon (PT), que aposta todas suas fichas nos indecisos. ­ A partir desta semana, o eleitor carioca começa a decidir o seu voto. Essa eleição está em aberto ­ enfatiza o candidato Fernando Gabeira (PV), através de sua assessoria, afirma que espera radicalizações no processo. ­ A tendência nessas duas últimas semanas é de que haja um tom mais emocional, com mais calor e acusações, Por outro lado, Jandira Feghali (PC do B) justifica a importância do debate para aquecer de vez o período eleitoral. ­ A campanha no Rio de Janeiro ainda não teve nenhum debate, e isso é muito prejudicial para a formação da opinião do eleitor. Ainda mais quando, de repente, todo mundo é Lula desde pequenininho e alguns candidatos fazem campanhas milionárias para conquistar eleitores ­ desabafa. Chico Alencar (PSOL) atribui o clima frio à mídia, que, segundo ele, não cede espaço suficiente. ­ Os principais meios de comunicação de massa não realizaram debates entre os candidatos. Isso sempre permite confrontar, polemizar. Assim, claro, fica uma eleição de iguais, porque só a propaganda eleitoral pasteuriza, uniformiza. Desse modo todos os gatos são pardos e todos os ratos são lindos.
Máquinas atuantes
O candidato Marcelo Crivella (PRB) foi o único que considerou a campanha normal. Destacou que os candidatos estão se respeitando e tentando mostrar aos eleitores suas propostas políticas. Mas alfinetou os concorrentes ao dizer que "em toda campanha existe aquele candidato que tem o apoio da máquina do Estado ou do municipio". Paulo Ramos (PDT) diz que a campanha está fria porque os que preferidos dos meios de comunicação e dos órgãos de pesquisa têm basicamente os mesmos projetos. ­ Aí não tem conflito. Está faltando um espaço igualitário ­ critica o pedetista. Para Vinícius Cordeiro (PTdoB), a campanha teve dois momentos: antes e depois da TV. ­ O que me causa frustração é a natureza da cobertura dos grandes órgãos de comunicação e a falta de espaço para debates para que as propostas divergentes dos candidatos ficassem mais claras.

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