quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Rússia diz ter abatido aviões espiões georgianos; Bush oferece apoio a Geórgia

Da Folha online com agências internacionais

O Ministério da Defesa russo afirmou hoje que a Rússia abateu três aviões espiões georgianos não-tripulados: um deles foi abatido na noite de terça-feira e os outros dois, nesta quarta-feira. A informação foi divulgada pela agência de notícias Reuters. Também nesta quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anunciou que enviará ajuda humanitária à Geórgia --que está em conflito com a Rússia desde a semana passada.
"Apesar das garantias feitas pela Geórgia de que eles encerraram todas as atividades militares, três aviões georgianos foram abatidos pelas forças russas --um ontem à noite e dois durante o dia", disse um porta-voz do ministério, cujo nome não foi divulgado pela agência de notícias Reuters.
Segundo o coronel Igor Konoshenkov, citado pela agência de notícias Interfax, o avião georgiano abatido ontem à noite "tentava reunir dados sobre as posições das unidades de manutenção da paz e forças subordinadas".
Nesta quarta-feira, a Geórgia acusou a a Rússia de
quebrar um acordo de cessar-fogo estabelecido ontem e intermediado pela União Européia, acusação negada por Moscou.
O presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, afirmou também à rede de TV CNN que, ao invés de recuar, como previa o acordo, as forças russas estavam
avançando para a capital georgiana, Tbilisi, e tentando sitiá-la. A Rússia também negou a acusação.
Os conflitos entre Geórgia e Rússia começaram na última quinta-feira (7), quando a Geórgia, que é aliada dos EUA, enviou tropas para retomar o controle da
Ossétia do Sul, região separatista que declarou independência no começo dos anos 90. Moscou reagiu à ofensiva porque apóia o pequeno território e mantém forças de paz na região.

Bush

Nesta quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anunciou que
enviará a secretária de Estado do país, Condoleezza Rice, para ajudar nas negociações de cessar-fogo entre sua aliada, a Geórgia, e a Rússia.

"Os Estados Unidos defendem o governo democraticamente eleito da Geórgia e insistem para que a soberania e a integridade territorial do país sejam respeitadas", disse Bush. Conforme o anúncio, Rice irá primeiro a Paris e, depois, a Tbilisi. Na viagem, segundo o presidente norte-americano, Rice "continuará nossos esforços para unir o mundo livre em defesa de uma Geórgia livre".
Em um comparecimento nos jardins da Casa Branca, Bush --cercado por Rice e pelo secretário de Defesa americano, Robert Gates-- mostrou sua insatisfação com a suposta ruptura do cessar-fogo por parte da Rússia e pediu que mantenha abertas "todas as linhas de comunicação e transporte, incluindo portos, rodovias e aeroportos" para a ajuda humanitária.
"Esperamos da Rússia que cumpra seu compromisso de deixar entrar toda forma de assistência humanitária. Esperamos da Rússia que garanta que todas as vias de comunicação e de transporte, incluindo portos, aeroportos, estradas e o espaço aéreo, se mantenham abertas para a transferência de ajuda humanitária e trânsito civil", disse Bush.
Bush também criticou duramente a Rússia por romper a trégua e exigiu que "cumpra seu compromisso de suspender todas as atividades militares na Geórgia e que retire todas suas forças que entraram nos últimos dias na Geórgia".
O presidente compareceu na Casa Branca depois que o presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, criticou, em uma entrevista à rede CNN, a resposta de Washington, que --segundo o líder da Geórgia-- era "suave" demais no início do conflito.
Cessar fogo
Ontem, os presidentes da Geórgia e da Rússia, Dmitri Medvedev, assinaram um acordo pelo fim dos combates. Segundo o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que intermediou as negociações entre as duas autoridades e levou o documento de Moscou a Tbilisi, afirmou que a aplicação das normas de não-agressão e de retração das tropas devem ser aplicadas já nesta quarta-feira.
O governo russo diz que comunicou cessar-fogo às tropas ainda na terça-feira, logo depois do anúncio da assinatura do acordo por parte do presidente. Durante todo o dia, no entanto, o governo georgiano denunciou novos ataques.
Os números relativos às vítimas são dissonantes. Enquanto a Rússia diz que 1.600 civis da Ossétia do Sul morreram; a Geórgia diz que há "quase 200" mortos e centenas de feridos. Nenhum dos números foi verificado por fontes independentes. A ONU afirmou nesta terça que quase 100 mil pessoas tiveram de sair de suas casas.

Acordo

O
acordo prevê a renúncia ao uso da força por parte dos dois países; o fim definitivo das ações militares; o livre acesso de ajuda humanitária; e o retorno tanto de tropas da Rússia quanto da Geórgia às suas posições originais, entre outros pontos.
Originalmente, o documento previa também debates sobre o futuro das áreas separatistas da Ossétia do Sul e da Abkházia. Para contar com o apoio de Saakashvili, porém, esse item teve de ser eliminado. "É um documento político. É um acordo de princípios, e eu acho que nós concordamos quanto a isso", afirmou Saakashvili em entrevista coletiva.
Durante a conversa com Saakashvili, Sarkozy telefonou duas vezes para o presidente russo para buscar concordância sobre modificações solicitadas pelo líder georgiano. Outros pontos polêmicos do acordo --como o que prevê a permanência de tropas de paz russas na região separatista-- teriam permanecido.

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