quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Deputados derrubam mandato de Álvaro Lins

Por Felipe Sáles
no Jornal do Brasil

Em votação secreta numa disputa acirrada, o deputado estadual Álvaro Lins (PMDB) foi cassado ontem na Assembléia Legislativa do Rio (Alerj) por 36 votos a favor – o mínimo exigido pela Casa – e 24 contra. Acusado pela Polícia Federal de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha armada, corrupção passiva e descaminho, o peemdebista foi escorraçado por 11 deputados que abriram seu voto no plenário. Nenhum dos 24 que votaram a favor defendeu Lins em público antes da votação, marcada por protestos do lado de fora e dentro da Alerj.
– Quem fica rico no poder é ladrão – fuzilou a deputada Cidinha Campos (PDT), depois de citar a casa luxuosa de Lins e seus dois carros importados blindados. – Não é à toa que o senhor é conhecido como Tio Patinhas.
Com aparente tranqüilidade, Álvaro Lins ouviu durante uma hora e meia 11 deputados citarem os crimes de que foi acusado pela Polícia Federal. Todos argumentavam que a imagem da Alerj seria abalada caso o deputado fosse absolvido. A votação, porém, foi extremamente apertada e, depois de dois terços de apuração, Lins parecia ter a absolvição garantida. A cassação foi decidida no último voto.
Ao se defender, Lins argumentou que o Poder Legislativo estava sendo afrontado. Acusado de se associar à máfia dos caça-níqueis, o deputado disse que foi o delegado que mais apreendeu caça-níqueis – "mais de três mil" – e que só não fez mais operações porque recebia ordens judiciais para abortá-las. O deputado criticou a imprensa e comparou a mídia e a PF a porcos e cachorros. Lins chegou a se comparar a super-heróis de histórias em quadrinhos – como Homem Aranha e Batman – que são perseguidos pela mídia. Lins deixou a Alerj dizendo apenas não tinha "nada a declarar".
– Os jornais não gostam de heróis – comparou. – Não vai ser atirando um deputado aos leões que os porcos e cachorros vão cessar o ataque. Os canalhas que se escondem nos porões da Polícia Federal fazem relatórios de inteligência apócrifos, como na época da ditadura.
Antes da votação, do lado de fora da Alerj, cerca de 100 estudantes, policiais e funcionários da Cedae em greve penduraram faixas, simulavam a cassação e vaiavam cada deputado que chegava à Alerj. Entre os manifestantes estava o delegado Alexandre Neto, que em setembro do ano passado sofreu um atentado acusou Lins de ter sido o mandante do crime. Neto leu o nome dos 40 deputados que votaram pela libertação do peemedebista quando ele foi preso, em 29 de maio.
– A Alerj não pode ser asilo político de criminosos – vociferou o delegado. – Deputados não são carcereiros.
Quando a sessão estava prestes a começar, os manifestantes tentaram entrar na Alerj mas foram impedidos. O grupo só entrou após a intervenção de alguns deputados. No plenário, cerca de 50 pessoas da Baixada Fluminense – recrutadas por um candidato a vereador amigo de Lins – já lotavam as bancadas.

Terceiro deputado cassado

Além de três abstenções, sete deputados não votaram: Dionísio Lins (PP), Graça Pereira (DEM) e Sula do Carmo (PMDB) estavam de licença e Beatriz Santos (PRB), Altineu Côrtes (PT) e Roberto Dinamite (PMDB) faltaram – além do deputado Natalino DEM), que está preso acusado de chefiar milícias na Zona Oeste. Com Lins, foi o terceiro deputado estadual cassado este ano, ao lado de Jane Cozzolino (PTC) e Renata do Posto (PTB). O deputado Marcelo Freixo (PSOL) – que já havia pedido a cassação de Lins no ano passado – comemorou.
– Sabíamos que seria apertado. O voto secreto é uma afronta à democracia e dificulta muito a legitimidade do processo – criticou. – Mesmo assim, conseguimos cassar o deputado e esperamos melhorar a imagem da Casa.
Ex-chefe de Polícia Civil, Lins foi eleito com 108.552 votos. No dia 29 de maio, ele foi preso em flagrante na operação Segurança Pública S/A, da Polícia Federal, por estar num apartamento luxuoso em que vivia, que teria sido pago por ele e colocado no nome de parentes. O deputado, porém, foi solto no dia seguinte com base num decreto aprovado por 40 deputados da Alerj. Lins foi acusado de ser um dos chefes de uma organização criminosa que atuava na cúpula da Polícia Civil. Entre os crimes praticados pelo grupo, de acordo com a Polícia Federal, estava o loteamento de delegacias através da cobrança de pedágio de delegados.

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