sexta-feira, 27 de junho de 2008

EUA tiram Coréia do Norte do "eixo do mal"

Na Folha de São Paulo com agências internacionais

Em troca da declaração de 60 páginas sobre o possível desmantelamento de seu programa nuclear, a Coréia do Norte será recompensada pelos Estados Unidos com a supressão de algumas sanções comerciais e, dentro de um mês e meio, já analisado o documento, com o fim da designação de "país que patrocina o terrorismo"."Esse pode ser o bom momento para a Coréia do Norte", disse o presidente americano, George W. Bush. Se ela "prosseguir com seu bom comportamento, superará os entraves de seu relacionamento com a comunidade internacional".Mas o próprio Bush deixou claro que não há plena reconciliação. "Os Estados Unidos não têm ilusões quanto ao regime de Pyongyang. Continuamos profundamente preocupados com o desrespeito aos direitos humanos, enriquecimento de urânio, mísseis balísticos e as ameaças do país à Coréia do Sul e a seus vizinhos regionais."Entre eles, o Japão discretamente lamentou que Bush tenha recompensado a ditadura norte-coreana sem que ela finalmente explicasse o paradeiro dos japoneses seqüestrados nos anos 70 e 80.O regime comunista de Pyongyang, enquadrado há seis anos por Bush no "eixo do mal" (ao lado do Irã e do Iraque), explodiu uma bomba atômica em outubro de 2006. Sua desnuclearização, em troca de alimentos, combustível e fertilizantes, passou a ser negociada no início de 2007 pelos Estados Unidos, Coréia do Sul, China, Japão e Rússia.A declaração norte-coreana, entregue ontem em Pequim pelo embaixador Choe Jin Su ao diplomata chinês Wu Dawei, representante de seu país no grupo de negociadores, não é ainda a definitiva.Dentro de uma política chamada de "passo a passo", o ditador norte-coreano, Kim Jong-il, provavelmente revelará mais tarde qual o seu estoque de plutônio, se ainda tem bombas atômicas estocadas ou se comercializou componentes de reatores com terceiros, como a Líbia ou a Síria.
De 5 a 12 bombas
O Instituto pelas Ciências e Segurança Internacional, baseado em Washington, calcula que os norte-coreanos têm um estoque de 46 a 64 quilos de plutônio, o suficiente para produzir de 5 a 12 bombas.O que os comunistas parecem ter desvendado são detalhes do reator de Yongbyon, a 130 km de Pyongyang, onde esse combustível foi obtido. O reator, desmontado com supervisão de inspetores americanos, terá a chaminé implodida hoje, em presença de jornalistas dos países que negociaram a desmobilização.Ainda quanto ao "passo a passo", Washington deixa de aplicar aos norte-coreanos uma legislação que veta o comércio com países inimigos. A partir de agora, entre os 192 Estados filiados à ONU, a legislação será aplicada pelos americanos somente a Cuba.Especialistas ouvidos pela Reuters acreditam que, na prática, os efeitos da decisão americana serão pequenos. A Coréia do Norte não integra o Banco Mundial ou a OMC (Organização Mundial do Comércio). Seus produtos estarão sujeitos a altas tarifas no mercado americano e são pouco competitivos, mesmo os minerais.Além disso, há a fragilidade da situação política. Stephen Hadley, assessor de Segurança Nacional de Bush, disse que as sanções voltarão caso Pyongyang não entregue as novas informações combinadas.Mesmo assim, Pyongyang terá benefícios com a distensão. O "Guardian" afirma que o regime comunista reuniu condições para superar décadas de miséria econômica. Há a promessa americana de 500 mil toneladas de alimentos.O mesmo jornal britânico afirma sarcasticamente que Bush deu uma lição aos déspotas de todo o mundo: "Se quiserem sobreviver, construam um arsenal nuclear".

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