quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A Changis do Obamis

Aos poucos a mentira montada por Barack H. Obama denominada “era da responsabilidade” vai sendo desmascarada. Reportagem de Patrícia Campos Mello no Estadão de hoje mostra que a changis proferida por Obama não passa de um simples discurso. Ele que queria se ver longe dos lobistas tem muito assessor que faz lobby.

Uma série de revelações embaraçosas está minando a mensagem de ética na política que ajudou a eleger o presidente Barack Obama. Já são três os indicados do governo Obama que revelaram ter sonegado impostos, dos quais dois renunciaram aos cargos na terça-feira. Outros três integrantes do governo eram lobistas e tiveram de receber uma autorização especial para ser nomeados - o que vai contra a promessa de Obama de manter o lobby longe da Casa Branca.
"Obama estabeleceu parâmetros éticos altíssimos para seu governo, por isso está ainda mais sujeito a críticas", diz o cientista político Gary Jacobson, da Universidade da Califórnia, em San Diego. "Qualquer governo tem casos como esses, mas Obama se elegeu prometendo mudança."
Na terça-feira, renunciaram Tom Daschle, indicado para secretário da Saúde, e Nancy Killefer, que era encarregada de garantir eficiência na Casa Branca. Daschle deixou de pagar US$ 128 mil em impostos, além de ter recebido US$ 5 milhões de empresas de saúde nos últimos anos - justamente as empresas que ele supervisionaria em seu novo cargo. Tim Geithner, o outro sonegador, pagou cerca de US$ 40 mil em impostos atrasados e escapou - foi confirmado pelo Senado como secretário do Tesouro.
Antes da derrocada fiscal dos indicados, havia causado mal-estar a leniência de Obama com lobistas, depois de ter baixado uma ordem executiva estabelecendo duras regras contra a influência do lobby na Casa Branca. O vice-secretário de Defesa, William Lynn, teve de receber uma dispensa do cumprimento das novas regras de ética, pois era lobista da Raytheon, fornecedor da secretaria, o que em tese o impediria de servir no governo. O enviado especial ao Oriente Médio, George Mitchell, não era um lobista registrado, mas atuava numa área cinzenta de consultoria - venda de influência para empresas. E o chefe de gabinete de Tim Geithner no Tesouro era lobista da Goldman Sachs.
Por enquanto, diz Jacobson, Obama ainda mantém sua credibilidade para fazer reformas, pois Daschle e Killefer foram "voluntariamente" afastados de suas posições. Mas Geithner está no governo e a permanência dos ex-lobistas é fonte de irritação. As revelações são ainda mais indigestas em meio ao tom populista assumido pelo governo durante a crise - Obama chamou os banqueiros de "desavergonhados" e acaba de baixar limites de remuneração para executivos de empresas que receberem ajuda do governo (mais informações no Caderno de Economia).
Além de abalar a credibilidade, os contratempos com os indicados atrapalham o andamento do governo. O afastamento de Daschle deve atrasar o início da reforma do sistema de saúde. Já há nomes circulando para o cargo: Kathleen Sebelius, governadora do Kansas, e o ex-presidente do Partido Democrata Howard Dean.

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