sábado, 10 de maio de 2008

PF tem planilha que inclui Paulinho em divisão de propina

Por Fausto Macedo
no Estado de São Paulo

Um rascunho em folha de papel sulfite indica o destino que teria sido dado a R$ 2,6 milhões - parte do dinheiro desviado do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pelo grupo desarticulado pela Operação Santa Tereza da Polícia Federal.A planilha, juntada aos autos do inquérito policial que investiga lobistas, empresários, advogados e servidores públicos, indica o nome Paulinho como o destinatário de R$ 216 mil. Paulinho é "possivelmente" o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, afirma a PF em relatório de investigação que enviou à Justiça Federal.O papel que reforça a suspeita de ligação do parlamentar com o suposto esquema de fraudes com recursos do BNDES foi encontrado na manhã de 24 de abril - quando a Operação Santa Tereza foi deflagrada -, em uma sala da Progus Consultoria e Assessoria, situada à Alameda Santos, Jardins, em São Paulo.A Progus pertence ao empresário Marcos Vieira Mantovani, apontado pela Procuradoria da República como o consultor da organização criminosa e parceiro de João Pedro de Moura, amigo e ex-assessor de Paulinho. Mantovani e Moura estão presos em caráter preventivo na Custódia da PF. Eles não prestaram depoimento no inquérito, sob a proteção do direito constitucional de só falar em juízo.Os investigadores da Polícia Federal consideram indiscutível que o manuscrito, datado de 21 de janeiro, foi elaborado por Mantovani - eles compararam sua letra lançada em outros documentos recolhidos na Progus e concluíram que a caligrafia é a mesma. A planilha Progus é mais um avanço da PF na direção de Paulinho da Força.O documento teve peso fundamental no requerimento da Procuradoria da República ao Supremo Tribunal Federal para abertura de investigação sobre o parlamentar, citado em escutas telefônicas da quadrilha como suposto beneficiário de propinas. Na semana passada, acolhendo requerimento da procuradoria, o juiz federal Marcio Ferro Catapani enviou os autos ao STF.
TRÁFICO
A Operação Santa Tereza nasceu para combater o tráfico de mulheres a partir da boate WE, prostíbulo paulistano freqüentado por empresários, policiais e políticos. Seu proprietário, Manuel Bastos, o Maneco, está foragido. Alvos da escuta federal, Maneco e seus parceiros acabaram revelando detalhes sobre outra atividade ilícita, a que envolve desvios de recursos do BNDES.A PF começou a investigar essa etapa do esquema em dezembro. Descobriu que a quadrilha infiltrou agentes no banco estatal e em administrações municipais. Também constatou que a cúpula da organização mantém laços estreitos com a Força Sindical e com o PDT.Além de Paulinho, presidente estadual do partido, é mencionado nos grampos José Gaspar, vice-presidente do PDT.A PF avalia ter provas cabais de fraudes em pelo menos três contratos de financiamento do BNDES com a Prefeitura de Praia Grande e as Lojas Marisa, que somam quase R$ 400 milhões.Segundo a PF, a administração Alberto Mourão (PSDB), de Praia Grande, obteve financiamento de R$ 130 milhões no BNDES. A empreiteira Termaq Terraplenagem Construção Civil e Escavações Ltda. foi contratada para obras naquele município com o dinheiro do banco estatal. Os desvios eram cobertos por notas fiscais frias emitidas pela Progus.Os investigadores suspeitam que as fraudes no BNDES foram viabilizadas a partir da atuação do lobista João Pedro de Moura. Ex-conselheiro do BNDES, cargo que ocupou por indicação da Força Sindical durante 5 anos, até agosto de 2007, Moura ainda circulava pelos corredores da instituição e também pelos gabinetes de administrações municipais interessadas em captar verbas públicas para obras que nem sempre saíam do papel.O lobista foi substituído no BNDES pelo advogado Ricardo Tosto, também citado nas investigações da Polícia Federal. A Procuradoria da República denunciou 13 acusados e pediu a prisão preventiva da organização. Apenas quatro suspeitos estão presos.Antonio Rosella, advogado de Paulinho, repeliu a suspeita da PF sobre o deputado. "É interpretação de um terceiro, quem interpretou deve estar interpretando porque quer interpretar o que quer", disse Rosella. "Então, interpretou o que ele quis. Só que não é verdade."Para o advogado, insinuar que Paulinho recebeu propina "é uma loucura, um absurdo". Rosella acentuou que não conhece o documento apreendido pela PF, do qual consta o nome Paulinho. "Não conheço a origem, não posso responder por algo que não é verdade."

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