sábado, 13 de novembro de 2010

"Com Dilma, o PT chega em quinto" por Diogo Mainardi

O leitor de VEJA já sabe o que esperar de mim: em matéria de prognósticos eleitorais, eu erro fatalmente, eu erro teimosamente, eu erro rumorosamente. Nos primeiros meses de 2008, prognostiquei que a candidata petista chegaria em quinto lugar. Dois anos e meio depois, estou aqui reivindicando meu erro. Errei, errei, errei.
É bom errar. É bom repetir que errei. Só há um aspecto de meu trabalho de que realmente me orgulho: eu nunca tentei compreender a mente ou o comportamento de meus compatriotas. Eu me atormentaria se um dia, mesmo que por engano, acabasse acertando um resultado eleitoral. Os valores aos quais sou mais apegado ruiriam. Quem compreende a mente e o comportamento dos brasileiros é Valdemar Costa Neto. Quem compreende a mente e o comportamento dos brasileiros é a Mulher Melancia. Quem compreende a mente e o comportamento dos brasileiros é Chico Buarque. Eles sabem o que os brasileiros querem. Eu só sei o que os brasileiros repelem. Eles repelem Antonello da Messina e Memling. Eles repelem Pitágoras e Empédocles.
De todos os nossos escritores, o único que conseguiu compreender a mente e o comportamento dos brasileiros foi Euclides da Cunha. Eu sempre recorro a ele quando tenho de tratar do assunto. Ele é meu Valdemar Costa Neto particular. Euclides da Cunha podia interpretar o caráter de uma pessoa a partir do formato e da medida de suas orelhas ou de sua testa. Eu me pergunto como ele teria interpretado o formato e a medida das orelhas de um eleitor do PT, como Chico Buarque.
Analisando a campanha de Canudos, Euclides da Cunha delineou perfeitamente o caráter nacional. Os fanáticos de Antônio Conselheiro eram uns “broncos”, uns “primitivos”, uns “retardatários”, uns “retrógrados”, uns “impotentes”, uns “passivos”. Eles eram “uma turba de neuróticos vulgares”, de “desvairados”, de “desequilibrados incuráveis”. Eles eram “uma gente ínfima e suspeita, avessa ao trabalho, vezada à mândria e à rapina”. Eles eram dotados de uma “moralidade rudimentar”, com uma série de “atributos que impediam a vida num meio mais adiantado e complexo”. Eles eram um retorno “ao estádio mental dos tipos ancestrais da espécie”.
Euclides da Cunha compreendeu a mente e o comportamento dos brasileiros. Ao contrário de mim, ele jamais teria errado o resultado eleitoral.

Um comentário:

Mia disse...

Muito bom esse Mainardi! Como o Euclides descreve bem, não? Realizei-me lendo-o! Cada palavra tão bem colocada que dá vontade de aprender de cór!
Abraço!