quarta-feira, 16 de abril de 2008

Base cochila e oposição convoca Dilma para explicar dossiê

Por Rosa Costa
no Estado de São Paulo

Desta vez, a oposição foi direto ao ponto. Irritada com a manobra da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que adiou seu comparecimento ao Senado, parlamentares oposicionistas aproveitaram novo cochilo da base aliada e a convocaram para depor na Comissão de Infra-Estrutura sobre o dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A convocação de ontem foi o primeiro capítulo de uma blitz. Há dois novos requerimentos no arsenal dos senadores do PSDB e do DEM que ainda serão apresentados, um para depoimento na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e outro na Comissão de Meio Ambiente (CMA).Há menos de duas semanas, a Comissão de Infra-Estrutura convocou Dilma com o objetivo oficial de ouvi-la sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), sobretudo sobre uma de suas obras, a usina de Belo Monte, no Pará. Na ocasião, a oposição avisou que a interrogaria também sobre o dossiê. O depoimento para falar do PAC deveria ocorrer hoje, mas foi adiado pela ministra.De iniciativa dos senadores tucanos Flexa Ribeiro e Mário Couto, ambos do Pará, a aprovação dos requerimentos em votação simbólica só foi possível porque nenhum dos aliados fiéis do governo acompanhava os trabalhos da comissão.A líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), acusou os colegas de promoverem "golpes" para levar Dilma ao Senado. "Nesta comissão temos de acompanhar qual é o próximo golpe da oposição", atacou. Ironizando o cochilo dos governistas, Mário Couto os comparou a camarões "que dormem fora de hora e são levados pela maré".O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), tentou cancelar a primeira convocação, alegando que o tema está fora das atribuições da comissão. Tentou ainda transformar a convocação do dia 3 em "convite", procedimento que não está previsto no regimento do Senado. Para que o convite pudesse ocorrer, seria necessário acordo de todos os membros da comissão.Ambos os requerimentos de Jucá foram rejeitados pelo presidente da comissão, senador Marconi Perillo (PSDB-GO), sob a alegação de tratarem de "matérias vencidas". Surpreendido, o líder anunciou que recorrerá ao plenário. Ameaçou ainda "esterilizar" as comissões presididas pela oposição, retirando delas os representantes da base governista. O procedimento seria inédito.
BOA CONVIVÊNCIA
A discussão na Comissão de Infra-Estrutura - convocada para sabatinar o candidato ao cargo de diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Mário Rodrigues Júnior - mostrou o empenho dos governistas em manter Dilma longe da oposição. Em nome da boa convivência, Jucá pediu a Mário Couto que retirasse seu requerimento. Ele se recusou a fazê-lo.Pelo regimento, a ministra tem até 5 de maio para atender à primeira convocação. O líder do governo reiterou ontem que ela só estará disponível depois do dia 29 de abril - às vésperas do feriado de 1º de maio, quando a Casa estará esvaziada.O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), alegou que a oposição está se valendo de recursos "absolutamente regimentais" para ouvir Dilma e negou qualquer estratégia de trazê-la "na marra" ao Senado. Ele disse não entender os motivos que levam a ministra a "não querer aprofundar suas explicações".Os dois requerimentos que ainda devem ir a votação são de autoria do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM). Eles defendem o comparecimento de Dilma ao Senado "diante das gravíssimas denúncias veiculadas nos órgãos de comunicação sobre a participação de seus subordinados na fabricação de um dossiê para intimidar os parlamentares de oposição e o Congresso".

Nenhum comentário: