domingo, 30 de janeiro de 2011

Egito ignora promessas e volta às ruas

Por Samy Adghirni e Rebeca Rocha
na Folha



A promessa de reformas feita anteontem pelo ditador do Egito, Hosni Mubarak, 82, teve efeito contrário no país de 80 milhões, o maior do mundo árabe.
Ontem, os egípcios tomaram mais uma vez as ruas, exigindo a saída de Mubarak, há 30 anos no poder. Pelo menos 102 pessoas morreram em cinco dias.
Cerca de 50 mil pessoas voltaram à praça Tahir, centro do Cairo. Houve manifestações em Alexandria, Suez e Rafah, na divisa com a faixa de Gaza.
No fim do dia, Mubarak, numa nova cartada, nomeou o diretor de inteligência do país, Omar Suleiman, para um novo posto de vice-presidente. Já o novo premiê será um militar da confiança do ditador, Ahmed Shafik.
As nomeações podem significar um desejo de endurecer a repressão aos manifestantes. Mas alguns analistas especulavam que Mubarak na verdade escolheu pessoas próximas para herdar o país após uma eventual renúncia.
A internet continuava precária ontem. Mas os celulares, depois de ficarem fora de serviço por ordem do governo, voltaram a funcionar.

CAOS NO AEROPORTO
Ao cair da noite, Cairo e outras cidades registraram uma onda de saques.
No aeroporto da capital, houve caos. Mais de mil turistas e funcionários de embaixadas tentavam sair do país.
Ontem à noite, os passageiros que chegavam não conseguiam deixar o local devido ao toque de recolher (das 16h às 8h).
Para piorar, não era possível encontrar água nem comida. Carrinhos de bagagem eram usados como cama.
Além disso, havia boatos de que gangues leais a Mubarak estariam circulando com facas e armas de fogo. O objetivo seria criar uma sensação de desordem para que o ditador argumente que seu regime é necessário para manter a ordem pública.
Hoje, dia útil no país, a Bolsa de Valores estará fechada. O acesso a pontos turísticos como as pirâmides foi restrito, e há relatos de que duas múmias do Museu do Cairo foram danificadas.
Por conta das limitações, muitas pessoas estão com dificuldades de encontrar suprimentos e se apressam para criar estoque, inflacionando os preços.
"Estou rodando toda a cidade em busca de gasolina e não acho mais. O governo acha que vai nos impedir, mas não vai conseguir", declarou o empresário Haiderf, que não deu o sobrenome.
Além de privar os cidadãos de recursos, o governo tem omitido informações.
A agência estatal divulga só imagens de ruas vazias ou lugares supostamente queimados pelos manifestantes, além de contar prejuízos.
A reação internacional ao movimento teve o efeito colateral irônico de aproximar EUA e Irã.
O governo norte-americano pediu reformas a Mubarak e pode rever sua ajuda militar ao país, de US$ 1,5 bilhão ao ano.
Já o governo do Irã, rival regional do Egito, pediu que se "permita o despertar da onda islâmica".

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