quarta-feira, 2 de abril de 2008

O PT e a reeleição em 1997 (Parte 2)

Por Carlos Eduardo Alves
na Folha de São Paulo em 30 de janeiro de 1997

Candidato natural do PT à Presidência da República em 98, Luiz Inácio Lula da Silva acha que a aprovação da emenda da reeleição provou que o caminho das urnas não pode ser a única via petista.''Nunca alimentei a ilusão de ganhar no institucional'', afirmou Lula ontem ao comentar o resultado da votação. ''Na luta eminentemente institucional, levamos desvantagem diante da prática fisiológica do governo.''A discussão sobre o papel da via institucional para se chegar ao poder é antiga na esquerda. Nos últimos anos, o PT fez, na prática, uma opção que privilegiou o papel da luta no parlamento, para desgosto das correntes mais à esquerda do espectro partidário.O líder petista criticou os métodos utilizados pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para obter o sim à reeleição. ''O presidente usou a prática fisiológica que historicamente condenou'', disse.Lula criticou também a presença em Brasília de financiadores de campanhas eleitorais, que a seu ver ''pressionaram'' os deputados para dar a chance de FHC disputar um segundo mandato.A partir da aprovação da emenda, Lula acha que a campanha eleitoral foi antecipada em dois anos. Mas, no lugar de procurar um nome para contrapor-se a FHC nas urnas, acha que o mais importante é fazer oposição nas ruas.''Vou pedir ao PT para coordenar pessoalmente uma campanha contra o desemprego'', declarou Lula. Ele já conversou sobre o tema com José Dirceu (presidente do PT) e Vicente Paulo da Silva (presidente da CUT).O raciocínio de Lula é que só uma campanha de massa para discutir as causas do desemprego poderá arranhar a adesão popular que hoje o governo desfruta.Mesmo a opção pela mobilização popular, no entanto, será difícil, reconheceu Lula. Os chamados movimentos sociais, com exceção da luta pela reforma agrária, não apresentam hoje sinais de vitalidade, e o mito do entusiasmo da militância petista está abalado.''Precisamos afinar nossa viola'', afirmou sobre a maneira de superar o quadro difícil.Candidatura Lula reafirmou que não pretende disputar a Presidência em 98, embora no bastidor petista aumenta a cada dia a aposta de que a pressão para uma terceira tentativa de chegar ao Planalto será vitoriosa.''O prioritário agora é fazer alianças em torno de uma prioridade como o desemprego'', desconversou ao responder sobre uma possível candidatura. Ponderou, ainda, que não acha FHC imbatível em 98. ''Ele (FHC) estará mais vulnerável pelo impacto menor que terá o Plano Real.''Se Lula não quiser ser candidato a presidente, a opção mais provável do PT será Tarso Genro, ex-prefeito de Porto Alegre.Genro já afirmou que qualquer discussão sobre candidatura presidencial do PT depende da disposição de Lula de entrar no páreo. O ex-prefeito disse que é uma alternativa, mas desde que Lula desista. Lula vai se definir no final do ano.

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